sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Perdurado pelo pêndulo

Ameaçador! uivante!
Apoio meu queixo na mão esquerda, semi-fechada
Perco-me nas idéias de minha cabeça
Até que um barulho incessante
Desorganiza todas idéias
Idéias [antes]
já desorganizadas
                         em mim.

Paro


Presto atenção



Nada mais é que o relógio de pulso
Nada mais que o ponteiro dos segundos em movimento
Nada mais que isso.

Nada mais?!

Meus olhos lacremejam, porque
                                           senti.
Senti pelos segundos que foram
Senti pelos entes queridos falecidos
Senti a dor do próximo segundo
do próximo minuto.
A dor da pró-xi-ma
h-o-r-a.

Aumentou a dor da sua ausência

E digo mais, doeu quando percebi que o barulho não era dos seus passos
Percebo agora que caminho só...
Rezando por você, porque EU já não existo.

Como viverei sem seus passos
seus pêlos, cheiro, pele...
Pele macia
Cabelo cheiroso
Olhos vibrantes
Mãos quentes que afagam minha alma

Como posso viver só comigo?
se em mim você existe
Mas eu não existo em você.

E cada vez, mais, tenho certeza.
Certeza que a cada hora
minuto
segundo
que eu ouvir o baralho do ponteiro...


Cultivo a esperança da sua volta.
Porque o tempo passa
Como foi este, o teu pedido...

Estou à espera do tempo em que
O sol há de brilhar
Teu cabelo hei de acariciar
e sua salíva, saborear.

Peço! Rezo! Suplico!
Que o tempo chegue logo!

E na hora do penar,
paro o relógio.
Não quero ouvir o som dos ponteiros
Quero ouvir sua voz, seus passos...

terça-feira, 28 de agosto de 2012

literatura sentimental

versos pequenos de nada servem
nada
nada

o que há dentro de mim
não caberá num verso
numa prosa
numa crônica
num livro, ainda que mau escrito

Todos os escritores mentem
não há como escrever tudo
tudo o que de verdade pensa

Bem, ao menos, para mim
de nada serve a literatura.
de nada serve escrever, ler.

Tudo o que sinto não se enquandra
em nenhuma literatura já existente.
E quem sou eu para inventar algo?
Sou pequeno.
Não sei escrever.
Não sei falar.
Não sei ouvir.
Não sei dizer o que de verdade sinto.

Talvez por isso não exista uma só literatura
estilo literário.
Eu sou eu mesmo, não sirvo para fórmulas prontas
Sou grande
Sei falar
Sei ouvir
Sei dizer o que de verdade sinto.

versos pequenos
pra mim não serve
nos versos pequenos
pra mim não cabe o que sinto.